Muitas são as dúvidas entre se realizar uma prostatectomia radical aberta ou robótica para o tratamento do câncer da próstata – as informações disponíveis na internet, ou de médicos amigos, conhecidos e familiares, é sempre muito grande. Sempre alguém está disposto a te contar o caso de um paciente que realizou um ou outro procedimento, e se deu maravilhosamente bem, ou o contrário. Como tomar uma decisão então? Como saber se posso confiar no que está publicado na internet, ou se o profissional que exibe anúncios está realmente bem qualificado para a cirurgia?
Inicialmente, vamos aos fatos : a prostatectomia por via aberta é realizada desde 1909( isso mesmo, há mais de 100 anos). Nos primórdios era feita por via perineal (incisão entre a bolsa escrotal e o ânus), depois via uma incisão abdominal, e finalmente atingiu seu formato atual, feita através de uma mini-incisão com cerca de 12 cm, logo acima do púbis. Foi essa cirurgia que deu origem as outras(laparoscópica e robótica), e que estabeleceu as bases para preservação da continência (controle) urinária e ereção pós-operatórias.
A cirurgia robótica foi desenvolvida a partir da laparoscópica, em torno dos anos 2.000, ao se acoplar os braços robóticos aos portais (orifícios, em número de 6) utilizados na laparoscopia, usando pinças e tesouras específicas dentro desses portais, para então se operar o paciente. Existe ainda uma câmera de vídeo acoplada a um dos braços(total de 4 braços robóticos),e um sistema ótico de magnificação na plataforma robótica, que amplia as estruturas e torna a visão com alta definição (3 D) e mais segura. O cirurgião robótico comanda esses braços robóticos a partir de uma cabine de comando (console), próximo ao paciente. Então não é o robô quem faz a cirurgia – a imagem que todos temos é a dos robôs nas grandes montadoras de carros soldando milimetricamente as peças dos automóveis, e nossa impressão é que isso seria feito na cirurgia. Mas não é. O robô não opera e não é programado como o das montadoras. O cirurgião é quem precisa ser muito bem treinado, e aí quanto mais experiente melhor, para fazer a cirurgia comandando os braços robóticos de forma correta. O robô nada faz, apenas reproduz os movimentos do cirurgião, e torna mais coerentes os movimentos desse cirurgião, reduzindo tremores. Esse entendimento é fundamental para que não se crie falsas expectativas com os resultados da cirurgia robótica – um cirurgião pouco experiente não opera melhor com o robô, e o robô não corrige erros técnicos do cirurgião, uma vez que este é quem está no comando.
Vários trabalhos científicos de excelente qualidade já foram publicados comparando as duas técnicas (aberta e robótica), e em geral não foram encontradas diferenças significativas entre elas relacionadas ao resultado oncológico (cura do tumor), disfunção erétil (impotência), e incontinência urinária. Um cirurgião experiente operando com técnica aberta e um experiente operando com robótica atingem os mesmos resultados- os estudos apontam nessa direção. A preservação dos feixes de nervos da ereção é a mesma com as 2 técnicas. Em relação ao controle urinário, a nossa impressão, no entanto, é que os pacientes submetidos à prostatectomia robótica recuperam a continência urinária um pouco antes que os pacientes submetidos à prostatectomia aberta, talvez pela menor manipulação local.
Os pacientes submetidos à prostatectomia robótica tiveram menor sangramento(1% contra 3%) e menos dor pós-operatória que os submetidos a técnica aberta, além de reduzirem seu período de internação (para cerca de 2 dias, contra 3 dias na aberta). Isso se explica porque, por ser uma cirurgia feita através de punções no abdômen( e não uma pequena incisão), a recuperação é um pouco mais rápida. Na cirurgia aberta a perda sanguínea é maior do que na prostatectomia robótica, mas essa perda raramente leva a necessidade de transfusão de sangue, muito rara com ambas as técnicas- a grande maioria dos cirurgiões experientes não faz nem previsão de reserva de sangue com qualquer das técnicas . O período de uso de uma sonda na bexiga é o mesmo com a aberta ou robótica, em torno de 7 dias.
Pronto, agora você já tem algumas informações básicas e verdadeiras sobre as 2 técnicas. Mas a Medicina bem exercida exige algumas premissas, e 3 delas são fundamentais : bom clínico ou cirurgião, bons exames ( incluindo o estudo da biópsia e ressonância magnética), e um bom hospital, com excelentes equipamentos. A falta de algum desses itens pode comprometer e muito, o resultado da cirurgia. Portanto não tome decisões apressadas, reavalie bem o seu caso e tome decisões com cautela. Muito estará em jogo, não se esqueça.
1 Escolha um bom hospital, com grande volume de cirurgias, e de preferência com atendimento completo para próstata, incluindo radioterapia e oncologia.
2 Informe-se sobre o cirurgião, seu treinamento anterior, número de cirurgias executadas, e a técnica que utiliza. Veja se possui alguma publicação científica sobre o câncer da próstata.
3 Informe-se com outros médicos, de outras especialidades, sobre vários cirurgiões diferentes.
4 Tenha cautela com anúncios pagos de médicos, e revisões ou opiniões na internet – a internet aceita tudo, e as vezes não é a realidade, apenas propaganda.